maio 26, 2012

LASSE SÖDERBERG

LASSE SÖDERBERG
 
Nasceu em 1931 em Estocolmo, na Suécia. Vive atualmente em Malmö. Uma seleção da sua poesia, “Coração de Papel”, revista por Ana Luísa Amaral e Gonçalo Vilas-Boas, de forte inspiração surrealista, foi editada em 2001 pela Quetzal.

OUVIDOS CHEIOS DE ALGODÃO

Primeiro tapo os ouvidos
com ambas as mãos
para não mais ouvir
o eterno sussurro.

Depois começo a encher
os ouvidos de algodão,
grandes pedaços de esquecimento.
Poderei assim escapar?

Para ficar convencido
de ter achado a solução
corto as orelhas
segundo um método experimentado.

Ei-las diante de mim
como duas conchas do mar,
cheias de eterno sussurro
e de anestesiante algodão.

§


GUERRILHA URBANA

(Berlim Leste, 1975)
A altas horas da noite está o centro da cidade
fortemente iluminado como uma sala de interrogatório.
Venho de Greifswalderstrasse.
Nem vivalma. Então algo se ouve subitamente
como se umas botas vazias de borracha
corressem sobre a relva.
Do canteiro erguem-se longas orelhas.
Um coelho salta-nos à frente! Mais um!
E mais um! Um bando de agitadores!
Tropel atrevido, tarados sexuais de olhos congestionados
saltitando como num passe de mágica
tirados das almas adormecidas dos funcionários.
Todas as noites aparecem à luz
sorrindo com desdém de tudo o que lhes mete medo.

maio 11, 2012

WERNER ASPENSTRÖM

 WERNER ASPENSTRÖM

Nasceu em Norrbärke e foi membro da Academia Sueca, ocupando a cadeira n.º 12, de 1981 a 1997. Aspenström dizia frequentemente que a sua motivação para escrever era fazê-lo para o seu gato.



TU E EU E O MUNDO

Não perguntes quem tu és e quem eu sou
e porque tudo é.
Deixa os professores tratarem disso,
pois são pagos.
Põe a balança da casa sobre a mesa
e deixa a realidade pesar-se.
Põe o casaco.
Apaga a luz da entrada.
Fecha a porta.
Que os mortos embalsamem os mortos.

Estamos a andar aqui, agora.
O que usa botas de borracha brancas
és tu.
O que usa botas de borracha pretas
sou eu.
E a chuva que cai sobre nós ambos
é a chuva.

(Tradução de Vasco Graça Moura)

maio 10, 2012

SONIA ÅKESSON

 SONIA ÅKESSON

 Nasceu em 1926 na ilha báltica de Gotland, tendo falecido aos 51 anos. Poeta de referência para gerações ulteriores, escreveu poemas socialmente comprometidos com o estado social – uma sociedade consciente, com segurança económica para todos - e do papel da mulher na nova sociedade sueca, num estilo simples e confessional conhecido por “Nova Simplicidade”, caracterizado entre outros aspectos pelo ritmo e pela repetição.



SIM, POR FAVOR

Uma mão quente.
Uma casa quente.
Um pullover quente
para cobrir meus pensamentos gelados.
Um corpo quente
para cobrir o meu corpo.
Uma alma quente
para cobrir a minha alma.
Uma vida quente
para cobrir a minha vida gelada.

maio 01, 2012

LARS FORSSELL

  LARS FORSSELL

 

Foi membro da Academia Sueca. Poeta e dramaturgo muito premiado, nasceu e morreu em Estocolmo. Foi jornalista cultural em diversos orgãos de comunicação suecos, sendo muito popular no seu país devido a uma outra vertente artística que cultivava: a de escritor de canções.




Eu queria escrever mas
porque é que se tem de organizar tudo

tão exatamente

As coisas não são tão rigorosas

A estrada do tinteiro à página
é comprida demais e além disso
é preciso segurar a pena de uma
maneira especial como eu fazia quando tinha seis anos e
a língua pousava no – era o canto esquerdo
da boca ? e eu aprendi tudo o que
quer que foi
que eu aprendi

Agora aprendi algo diferente

Despejo o tinteiro no papel
Dá uma imagem do que eu quero dizer
Dá uma imagem perfeitamente clara
de tudo o que aprendi

(Tradução de Vasco Graça Moura)