agosto 31, 2012

A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia

A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia

 

Há que admirar um livro cujo título diz tudo. A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia é realmente uma viagem, e é realmente maravilhosa. Mais que um conjunto de fábulas, menos que um punhado de mitos, esta é a grande geografia sentimental da Suécia, um compêndio de beleza a descobrir na companhia de um bando de patos-bravos (dos verdadeiros) ou às costas de um ganso que não se resignou a ser mais um animal domesticado.

Numa demonstração de um raro sentido de oportunidade e mesura que nunca chega a desertar o texto, Selma Lagerlöf não se delonga em apresentar Nils, rapazinho mau como as cobras que faz a sua aparição no início da narrativa. Ao contrário do que seria de esperar num romance destinado a acompanhar as viagens de um rapaz sueco, não se amontoam longos parágrafos descritivos ou epopeias de crueldade juvenil – seja no início, no corpo, ou no final da obra. Ao invés, a autora prefere deixar os animais da granja oferecerem os seus próprios testemunhos de carácter – cujas convincentes interjeições intersticiais muito pouco lisonjeiras não tardam a fazer sentido aos ouvidos de um Nils entretanto transmogrificado num minúsculo gnomo. Mas, superado o choque inicial, o rapaz compreende que há fados mais funestos e abraça a sua nova condição com optimismo e energia. Entre as asas do rebelde ganso, encabeça a rota da grande migração até esse paraíso de Primavera que é a Lapónia.
 
Medindo as suas palavras com parcimónia, a veneranda autora desfaz assim – sem hipótese de riposta –  o preconceito de que poderíamos estar perante uma figura com um defeito unidimensional exemplarmente definido, um  sujeito vil, portador de uma daquelas falhas tão impecavelmente delineadas que se diria existirem somente na expectativa de serem corrigidas ou redimidas pelas lições resultantes de uma fábula com a mesma limpeza e exactidão clínica com que uma peça de puzzle encaixa noutra. Este livro não é contudo um mero conjunto de fábulas, e se nunca mergulhamos de pleno na psique de Nils, a verdade é que o rapazinho se assemelha mais a um herói de Bildungsroman do que a um aventureiro ocasional do rocambolesco virtuoso. A viagem de crescimento em que embarca é certamente também ela espiritual, e a natureza a sua grande impulsionadora reformista.
Mas a grande protagonista é indubitavelmente a Suécia. Assombrosa, é ela o palco, ela o espaço aberto, o espírito telúrico que pulsa sob um firmamento selvagem. Ela é o agon em si, o ponto fulcral em redor do qual se congrega a vida e as suas causas. Nada menos que a Suécia para regenerar Nils ou conduzir Akka de Kebnekaise até à Lapónia, frustrar a raposa Esmirra ou envolver os pateiros Martin e Asa no círculo da vida e da morte. A força desta narrativa é tal que só apetece bradar, a uma aurora boreal ou por cima de um lago adormecido, que belo é o mundo (ou o país) que tais criaturas contém.
 
Veja-se ou não neste livro um exemplo distinto de literatura para crianças (e a grande questão que se suscita é a de saber se os livros infantis que hoje se produzem ainda serão lidos daqui a cem anos, como este), há que considerar o realismo mágico de Largelöf profundamente acessível e, no entanto, sugestivo de ideias colossais que lhe subjazem em mitologia e imaginário. Uma saga? De qualquer modo, uma magnífica súmula nórdica de sensibilidades.


agosto 23, 2012

Escritoras nórdicas Vencedoras do Prêmios Nobel

  • Selma Lagerlöf 
1858-1940        Suécia  
Prêmio Nobel de 1909

 Selma Ottiliana Lovisa Lagerlöf foi a primeira mulher a receber oPrêmio Nobel da Literatura. Foi professora e distinguiu-se na escrita para crianças e jovens, em textos que retratam o seu país.O primeiro romance foi Lenda de Gösta Berling (1891), mais tarde transposto para o cinema, embora o seu texto mais conhecido seja A Viagem Maravilhosa de Nils Holgerssn pela Suécia (1906),traduzido em quase todas as línguas. 


  • Sigrid Undset 
 1882-1949      Noruega 
Prêmio Nobel de 1928 

Nasceu na Dinamarca e foi para a Noruega com dois anos. Órfã desde os 11 anos, trabalhou como secretária. Após um primeiro romance que não conseguiu publicar, deixa uma vasta obra, de que se destacam: Fru Marta Aulie (1924), a trilogia KristinLavransdatter (1920-1922), Tilbake til fremtiden (1945) e Lykkelige dager (1947).  
Os seus textos abordam os mistérios 
das antigas sagas nórdicas.
Distinguiu-se pela sua convicta luta anti-nazi. 

agosto 14, 2012

SENTIDOS

SENTIDOS






Adoro o silêncio
O cheiro da chuva
O acariciar da brisa
A força do vento
Da tempestade.

Adoro
Ouvir o canto dos pássaros
O som da relva.
Contemplar a beleza
Das flores.
Sentir seu aroma
Suas cores
Suas formas.

Adoro a simplicidade
A poesia
A arte
Expressão da minha alma.

Adoro caminhar pela areia
Sentir o aroma do mar
Mergulhar no infinito azul
Me deixar levar pelo vento
Cruzar barreiras
Desafiar fronteiras
Ter a liberdade dos pássaros.


Adoro
A sensação do sol
Aquecendo meu ser.
O sabor da chuva
Me embriagar
Em suas gotas
Senti-las percorrer
Meu corpo
Lavar minh’alma.

Adoro o inverno
O despertar da primavera
O sabor outonal
Das quatro estações.

Adoro ser parte de mim
Da mulher que sou.
Sentir-me
Parte do universo.
E ter certeza
Que faço parte dele
Do constante espetáculo
Da vida.
(Kris Rikardsen)

agosto 03, 2012

 Chega pela mão do poeta Jorge Sousa Braga, que  traduziu  o livro "O GRANDE ENIGMA" (2004), de Tomas Tranströmer.


O ROCHEDO DAS ÁGUIAS
Por detrás do vidro do terrário
estranhamente imóveis
os répteis.

Uma mulher estende a roupa
em silêncio.
A morte está ao abrigo do vento.

Nas entranhas da terra
a minha alma desliza
silenciosa como um cometa.


§

FACHADAS

1.

No fim da estrada vejo o poder
e é como uma cebola
com rostos sobrepostos
que caem um a um…

2.

Esvaziam-se os teatros. É meia-noite.
Palavras ardem nas fachadas.
O enigma das cartas sem resposta
afunda-se na fria cintilação.


§

NOVEMBRO

Quando se aborrece, o verdugo torna-se perigoso.
Enrola-se o céu ardente.

Gotas de água a cair da torneira ouvem-se de cela em cela
E o espaço transborda da terra gelada

Algumas pedras brilham como luas cheias


§

A NEVE CAI

São cada vez mais
numerosos os funerais
como os painéis na autoestrada
ao aproximar-se uma cidade.

Milhares de pessoas
na terra das grandes sombras.
Uma ponte constrói-se
lentamente
direito ao espaço.

§

ASSINATURAS

Devo passar
pelo umbral escuro.
Uma sala.
O documento em branco resplandece.
Como as muitas sombras que se movem
todos querem assiná-lo.

Até que a luz me trespasse
e dobre o tempo.

§

HAIKUS
1.


Jardins suspensos
num mosteiro lama.
Pinturas de batalhas.

*
Muro do desespero…
Não têm rosto
as pombas que vão e vêm.

*

Pensamentos parados,
os mosaicos coloridos
no pátio do palácio.

*

Jaula de sol.
De pé na varanda
como um arco-íris.

*

Murmúrio na névoa.
Longe um barco de pesca
…um troféu nas ondas.

*

Cidades cintilantes:
Tons, lendas, cifras—
Também…

2.

Veado ao sol:
as moscas cozem
a sombra ao chão


3.

Um vento gelado
trespassa a casa esta noite—
o nome dos demónios

*

Pinheiros descarnados
no mesmo pântano —
sempre e sempre.

*

Perdido na escuridão
encontrei um enorme sombra
num par de olhos.

*

Sol de Novembro.
A minha sombra nada:
Espelho.

*

Aqueles marcos de pedra
algures no caminho. Escuta
o arrulhar duma pomba

*

A morte dobra-se sobre mim.
Problema de xadrez.
Ela tem a solução.


4.

Com a sua cara de bulldog
o rebocador contempla
o pôr do sol.

*

Numa saliência da rocha
o estalido na escarpa mostra
o sonho, um iceberg

*

Subindo a encosta
debaixo do sol as cabras
ruminavam fogo


5.

As víboras
erguem-se no asfalto
como mendigos

*

Folhas ocre no outono—
tão valiosas como
os manuscritos do Mar Morto

6.

Na estante da biblioteca
do manicómio,
intacto o livro dos sermões

*

Sai do pântano!
O siluro contorce-se de riso
quando o pinheiro bate as doze.

*

Inchado de felicidade
naqueles pântanos-
mas quem canta são as rãs.

*

Ele escreve e escreve…
Grude flutua nos canais.
No Estige, aquela barcaça.

*

Silencioso como a chuva
ao encontro do murmúrio das folhas—
Escuta o sino do Kremlin

7.

Estranho bosque
Onde Deus vive sem dinheiro—
claras muralhas

*

Sombras rastejantes…
Perdida no bosque
a tribo de cogumelos.

*

Pega negra e branca:
teimosa corre em ziguezague
a direito através dos campos

*

Olha como me sento
uma barca em terra.
Aqui sou feliz

*

Trotam as alamedas
com armadura de raios solares.
Alguém chamou?


8.

Cresce a erva –
o seu rosto é uma runa
em memória

*

Uma imagem obscura.
Pobreza dissimulada,
flores num uniforme de presidiário


9.

Chegada a hora
repousa o vento cego
contra as casas

*

Eu estive ali –
sobre a parede caiada
amontoam-se as moscas.

*

O sol queima…
Um mastro com uma vela negra
de um tempo longínquo


*

Aguenta, rouxinol!
Do abismo cresce:
estamos disfarçados.

10.

A morte escreve
sobre o mar, enquanto
a igreja respira ouro.

*

Algo aconteceu.
O luar enche o quarto.
Deus sabia-o.

*

Caiu o tecto
e a morte pode ver-me:
aquele rosto.

*

Escuta o zumbido da chuva.
Para lá entrar
sussurro um segredo.

*

Cais da estação.
Que estranha esta quietude –
é a voz de dentro


11.

Milagre –
uma velha macieira
perto do mar

*

O mar é um muro.
Oiço grasnar as gaivotas:
elas saúdam-nos.

*

Por trás vento de Deus.
O tiro chega surdo—
sonho demasiado longo

*


Silêncio cor de cinza.
Passa o gigante azul.
A brisa do mar.

*

Um vento forte e pacífico
da biblioteca do mar.
Aqui posso repousar.

*

Aves com forma humana.
Macieiras em flor.
O grande enigma.



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