novembro 25, 2012

novembro 04, 2012

outubro 27, 2012

Ragnarök

Escrito pela romena radicada no Brasil Mirella Faur, Ragnarök é mais do que a introdução à mitologia nórdica como seu título sugere. É uma obra extremamente completa sobre o assunto, que traz contexto histórico, cosmogonia, panteões com verbetes individuais para diversas grandes e pequenas divindades, descrições de criaturas mitológicas, roteiro de datas sagradas e seus significados, linha do tempo, tabelas de correspondências de divindades bibliografia organizada para quem quer se aprofundar. Até guia de pronúncia o livro traz.
E histórias, muitas delas. Algumas com boa dose de humor, como Loki que amarra seus colhões na barba de um bode e se deixa arrastar para tentar fazer rir uma deusa, ou Thor – de todos os deuses – vestido de noiva para recuperar seu martelo de um gigante.
Ragnarök tem dois grandes méritos adicionais a meu ver. O primeiro é o enfoque feminino que Faur consegue resgatar nas histórias sem tornar o livro um panfleto. Ela mostra a tensão ao longo da história para que prevalecesse uma visão mais patriarcal, em particular com a difusão do cristianismo nos países nórdicos. Isso fez com que muitas manifestações femininas de poder fossem tachadas de bruxaria, não só as sacerdotisas, mas a própria tradição de transmissão oral de conhecimento entre as mulheres. Muitas das histórias tradicionais que sobreviveram desses povos não foram as passadas entre as mulheres, mas sim como as mulheres deveriam ser aos olhos dos homens.
O segundo grande mérito – e para mim o maior – é resgatar essas histórias, arquétipos e personagens como expressões humanas ao invés de matéria-prima para produtos da indústria do entretenimento. Não tenho nada contra filmes ou quadrinhos de super-heróis, eu mesmo gosto de muitos, mas é bom lembrarmos que essas representações são eco de algo muito profundo e antigo. São tentativas de compreensão do universo dos seres humanos frente às forças da natureza. São reflexos de medos e de desejos e uma forma de preservação de identidade cultural ao invés de distração para um fim de tarde, que é a principal relação que nós temos hoje com a mitologia.
Curiosamente, isso parece passar batido se você julgar Ragnarök pela capa e contracapa, que traz ilustrações e comentários típicos de literatura infantojuvenil, citando desde relações com games a Cavaleiros do Zodíaco. Entendo a necessidade de uma editora de vender o seu livro e encontrar ganchos para tanto, mas o livro de Faur não menciona nenhuma dessas referências e se trata de uma obra madura e bem pesquisada sobre mitologia nórdica. O leitor que buscar isso provavelmente nem vai abrir o livro se julgá-lo por sua capa.

No final, o livro entrega bem o que propõe. Uma excelente introdução à mitologia nórdica, muito informativa, bem organizada repleta de boas histórias e explicações de contexto histórico.

outubro 20, 2012

ABBA

AgnethaLOVE em 16/07/2011
28/06/2012 por aasc19

outubro 11, 2012

Mistérios Nórdicos

Mistérios Nórdicos

Deuses. Runas. Magias. Rituais.

 

Em Mistérios Nórdicos, Mirella Faur apresenta conhecimentos amplos e profundos dos aspectos históricos, mitológicos, cosmológicos e mágicos das antigas tradições nórdicas que propiciam ao leitor - principiante ou avançado - o embasamento necessário para que ele se beneficie dos segredos ocultos da simbologia rúnica. Mais do que um oráculo ou simples sinais fonéticos de um esquecido alfabeto, as runas auxiliares na avaliação e solução de problemas e permitem, àquele que se empenhar em seu estudo, o autoconhecimento, a ampliação da consciência e a evolução espiritual, sem a necessidade de pertencer a um grupo ou de ser orientado por um mestre. Ao alternar informações teóricas com práticas, a autora não apenas aponta as mais comuns distorções e falhas conceituais com relação ao tema, mas também apresenta de maneira clara e didática assuntos complexos como:
A história, a cosmologia, a mitologia, as tradições e celebrações do mundo nórdico
As origens, a classificação e a evolução dos diversos sistemas rúnicos
A ligação das runas com os arquétipos divinos, seres sobrenaturais e protetores espirituais
Os fundamentos e exemplos de meditações, visualizações, projeções astrais e práticas mágicas
Confecção e consagração do oráculo rúnico, de talismãs e escudos de proteção
Aplicações práticas e mágicas dos múltiplos significados rúnicos na divinação
A criação de espaços sagrados para a realização de leituras, práticas mágicas e rituais
A Compreensão dos efeitos atuais de causas passadas, de maneira que possamos fazer as escolhas certas no presente e evitar a repetição de erros no futuro.

 

outubro 03, 2012

Abba ganhará museu na Suécia em 2013

  Abba ganhará museu na Suécia em 2013

 

Banda sueca terá espaço em sua homenagem na cidade de Estocolmo.
'Tudo foi aprovado pelos quatro integrantes do grupo', disse Bjorn Ulvaeus.

 

 

Um museu dedicado ao lendário grupo sueco Abba será inaugurado em Estocolmo, dentro do Music Hall of Fame sueco, anunciou nesta quarta-feira (3) um dos membros do grupo, Bjorn Ulvaeus.

"Hesitei em virar peça de museu antes de minhas morte, mas agora entendo que criamos muita coisa e que é uma história como a da Cinderela, que vale a pena contar", comentou o músico em coletiva de imprensa. "Tudo foi aprovado pelos quatro integrantes do grupo", acrescentou.
O Abba começou a cantar no início dos anos 1970, se separou em 1982 e nunca mais voltou a se apresentar desde então. Mas vendeu cerca de 400 milhões de discos e ganhou fama duradoura.

 Situado na ilha de Djurgaarden, onde se encontram vários museus, o local abrirá as portas na próxima primavera (hemisfério norte). Bjorn Ulvaeus disse ter poucas esperanças de que os quatro membros do grupo se reúnam para a inauguração. "Se todos viesse, eu ficaria supercontente, mas são eles que decidem". Abba The Museum é o primeiro consagrado ao grupo.

http://g1.globo.com/musica/noticia/2012/10/abba-ganhara-museu-na-suecia-em-2013.html

setembro 30, 2012

Isabel Allende conquista prêmio de literatura na Dinamarca

 Isabel Allende conquista prêmio de literatura na Dinamarca

Odense (Dinamarca) Em reconhecimento de sua "mágica narrativa", a escritora chilena Isabel Allende recebeu neste domingo o prêmio Hans Christian Andersen de Literatura em uma cerimônia realizada no Koncerthus de Odense, na Dinamarca.


Sua qualidade como narradora e seu "talento" para enfeitiçar o público foram os argumentos usados pelo júri para justificar o prêmio, avaliado em US$ 86 mil e que foi entregue pelo príncipe Frederik da Dinamarca.

 
"O grande mérito de Isabel Allende como escritora é que é capaz de nos converter em leitores. Seus livros nos introduzem na história com um misterioso prelúdio, uma trama clara e uma narrativa sensitiva, cujas imagens são impossíveis de esquecer", afirmou Anne-Marie Mai, integrante do júri.

 
Isabel, por sua vez, se mostrou emocionada por este prêmio, que qualificou como um dos mais "significativos" de sua longa carreira, já que o mesmo leva o nome do célebre escritor de contos dinamarquês e é tido como "uma homenagem à fantasia, à magia".
"Os contos de Andersen foram os primeiros que escutei. Minha mãe que me lia", declarou a escritora chilena em seu discurso de aceitação.

 
"Essas histórias estimularam minha curiosidade, alimentaram minha fantasia e me ensinaram coisas sobre a lealdade, o amor, a grandeza, as dores e perdas da vida", completou Isabel ao falar que o autor de "O Patinho Feio" e "O Soldadinho de Chumbo" despertou seu "sonho" de se transformar em escritora.

 
"Minha mãe me contou que comecei a inventar histórias antes de saber ler e escrever. Por ter muitas histórias, ela me considerava uma menina mentirosa e, às vezes, me castigava. Contar essas chamadas ''mentiras'' é agora meu modo de vida, mas já não me chamam mais de mentirosa, e sim de ''narradora''", ressaltou Isabel após receber o prêmio. EFE


 http://noticias.terra.com.br/noticias/0,,OI6191686-EI188,00-Isabel+Allende+conquista+premio+de+literatura+na+Dinamarca.html

setembro 18, 2012

Selma Lagerlöf

"A cultura é tudo o que resta 
depois de se ter esquecido tudo o que se aprendeu."

"Ninguém pode livrar os homens da dor, 
mas será bendito aquele que fizer renascer neles 
a coragem para a suportar."

 "A alegria é a dor que se dissimula - 
à face da Terra só existe a dor"
(Selma Lagerlof)



Selma Ottilia Lovisa Lagerlöf, escritora sueca,  vencedora do Prêmio Nobel de  Literatura de 1909.

Primeira mulher a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura com livros de lendas e sagas suecas. Nasce Selma Ottiliana Lovisa Lagerlöf na cidade de Mårbacka. Forma-se professora e dá aulas em casa antes de ir para Estocolmo trabalhar em uma escola.

Aos 15 anos, depois de ter dedicado toda a infância à leitura, Selma decidiu que seria escritora e passou a escrever milhares de versos. Por volta de 1880, a situação financeira da família entrou em declínio, e começou a fazer pequenos trabalhos para se manter. Em 1882, com a ajuda financeira de um empréstimo feito por seu irmão Johan, Selma entrou para a Kungliga höga lärarinneseminariet, escola que formava professoras e que se preocupava com a causa feminista, incentivando a independência e o progresso social da mulher. Durante dez anos foi professora.

Aos 27 anos, concluídos os estudos, foi nomeada professora de História em Landskrona. Em certa ocasião cortou os cabelos que sempre usara em tranças, num gesto que na época era escandaloso e visto como sinal de emancipação feminina.

Em 1885, a família de Selma, mediante a doença do pai e as dívidas do irmão Johan, perdeu Mårbacka. Secretamente, Selma desejava trabalhar o suficiente para recuperar a propriedade da família. Foi auxiliada pela baronesa Sophie Lejonhufvud Adlersparre, que a incentivou a publicar seus versos em Dagny, a revista literária feminista fundada por ela. Em 1890, participou de um concurso de contos com alguns capítulos de um romance que estava escrevendo, e ganhou seu primeiro prêmio em dinheiro. Em 1891, publicava o romance completo, A Saga de Gösta Berling.

Após o sucesso, vieram Os Laços Invisíveis, em 1894, uma coleção de contos. Desses, o mais popular foi A Penugem. Nessa ocasião, em Estocolmo, Selma conhece Sofia Elkan, escritora de romances históricos, com a qual manterá correspondência e amizade pelo resto da vida. A partir dessa época escreveu Os Milagres do Anticristo, em 1897, , na Itália, considerado uma crítica ao socialismo siciliano, e Lenda de uma Quinta Senhorial, em 1898, concebido sobre o tema d e A Bela e a Fera.  Entre 1900 e 1902, publicou os dois volumes de Jerusalém, após uma viagem ao Egito e à Palestina, e posteriormente Escudos do Senhor Arne, As Lendas de Jesus Cristo e O Livro das Lendas. Já então era considerada uma das maiores escritoras suecas.

Alfred Dalin, diretor da escola de Husqvarna, fez-lhe a proposta de um livro para crianças das escolas primárias, que ensinasse a história e a geografia de seu país. Selma aceitou, elaborando extensa pesquisa e viagens de estudo, concluindo entre 1906 e 1907 a obra A maravilhosa viagem de Nils Holgersson através da Suécia, alcançando tamanho sucesso que pôde realizar seu sonho: comprar novamente Mårbacka, em 1910. Em 1904, recebera a medalha de ouro da Academia Sueca; em 1907, fora nomeada doutora honoris causa da Universidade de Uppsala; em 1909, recebera o Nobel de Literatura. 

No fim do século XIX, a literatura sueca era dominada pelo realismo naturalista.  Selma Lagerlöf, com sua obra mesclada de gnomos, duedes e fantasmas, ao recriar a atmosfera ficcional das lendas e relatos populares, significou uma volta ao romantismo.  Era vista, popularmente, como uma narradora que encarnava a arte dos contos populares.

Claes Annerstedt, que fez o discurso de recepção para Selma por ocasião da entrega do Nobel de Literatura, em dezembro de 1909, diria: "Para ela a natureza, mesmo inanimada, possui vida própria, invisível e contudo real".
 

Obras principais

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Selma_Lagerl%C3%B6f






O primeiro romance, «A saga de Gösta Berling», de 1891 foi transposto para o cinema (1924), por Mauritz Stiller, tendo como protagonista Greta Garbo.
O seu mais fabuloso sucesso editorial foi «A viagem maravilhosa de Nils Holgerssn através da Suécia», publicado, em 1906 e que foi traduzido em muitas línguas. Da sua obra destacam-se ainda os romances: «Jerusalém», «O foragido», a trilogia «O anel dos Löwensköld», «O tesouro», «Os milagres do Anticristo» ou «O Imperador de Portugália»; livros de contos como «O livro das lendas» ou «De um lar sueco»; e vários livros de memórias.
Foi ainda uma militante das causas feministas e uma pacifista convicta. Durante a II guerra mundial ajudou vários intelectuais alemães a fugirem conseguindo-lhes vistos suecos. A poetisa alemã Nelly Sachs foi por ela salva de ser colocada num campo de concentração. Como símbolo da sua contribuição doou a sua medalha de ouro do prémio Nobel para os esforços nacionais de luta contra os Nazis.
 
 A saga de Gösta Berling
Värmland, na Suécia, é famosa pela vida alegre e abastada dos ricos proprietários mineiros. O passatempo da moda é abrigar os aventureiros regressados das campanhas napoleónicas, homens viajados, com aventuras e experiências a partilhar que fazem deles o centro das atenções. Entre eles está Gösta Berling, muito mais novo e inexperiente, um padre renegado, jovem, brilhante, alegre, galante e sedutor. Berling conquista os corações de todas as mulheres e é um líder natural entre os homens. Numa dessas noites, Sintram, o ferreiro, aparece vestido de diabo e sugere um pacto que Gösta Berling deve assinar em sangue. Este é o começo do ano que vai marcar o fim de Värmland... Obra-prima da literatura europeia, escrito por Selma Lagerlöf, a primeira mulher a ganhar um prémio Nobel de literatura, este romance belíssimo cruza várias épocas e relatos que vão desde a lenda fantástica ao romance psicológico, da aventura histórica à fábula moral. Uma obra que segue a estrutura das sagas nórdicas e retoma de forma inteiramente original o tema do homem dividido entre o bem e o mal.


Os Milagres do anticristo
Numa pequena cidade costeira, os habitantes perguntam-se o que se passa com a natureza: é quase Verão e o mar continua gelado. Três soldados, nobres escoceses, aguardam que o seu barco desencalhe para partirem com um misterioso baú. Um deles, um homem elegante e bem vestido, reconhece a jovem Elsalill, que trabalha na estalagem após ter escapado aos assassinos que mataram toda a sua família. Elsalill não se lembra deste homem e dentro dela nascem emoções fortes que colocam a sua vida em risco.

Os Milagres do anticristo
Romance magistral e um dos mais representativos na Obra de Selma Lagerlöf, «Os Milagres do Anticristo» conta-nos a história de um ícone religioso – e de uma sua réplica com a inscrição O Meu Reino É Só Deste Mundo. A história começa em Roma, no tempo do imperador Augusto, no exacto momento em que este se prepara para ordenar a construção de um novo templo consagrado a si próprio. Uma visão adverte-o de um futuro culto que a sua cidade dedicará a Cristo, e o templo é consagrado a este novo Salvador do mundo. O ícone que o representa atravessa séculos e lugares. A sua réplica, feita por um viajante, chega a uma pequena aldeia no monte Etna, onde começa a fazer milagres até se descobrir a sua identidade profana.
Selma Lagerlöf

setembro 09, 2012

A marcha nupcial

  A marcha nupcial

 
Vou contar agora uma bela história.
Há muitos anos, ia celebrar-se um rico casamento na comuna de Svarstjo, na Vermlândia. A bênção nupcial seria na igreja, e a festa duraria três dias inteiros, e, enquanto durasse a festa, devia dançar-se desde o anoitecer até de manhãzinha.
E, pois que se devia dançar tanto, era muito importante achar um músico consumado, e a Nils Elofson, o rico camponês que casava a filha, atormentava mais este problema do que o resto dos preparativos. Quanto ao músico que habitava em Svarstjo, não o queria ele por preço algum. Chamava-se João Oster, e o nosso camponês sabia bem que tinha grande nomeada, mas era tão pobre, que às vezes se apresentava nas festas descalço e de colete rasgado. Não é um maltrapilho assim que a gente gosta de ver à frente de um cortejo nupcial.
Decidiu-se enfim a mandar perguntar a certo Martim, chamado o Tocador, de Josseherad, cantão vizinho, se estava disposto a vir tocar no casamento de Svarstjo.
Sem um instante de hesitação, respondeu Martim, o Tocador, que nunca tocaria em Svarstjo, enquanto houvesse naquela comuna o melhor músico de toda a Vermlândia. Visto que tinham aquele, não havia necessidade de mandar chamar outro.
Recebendo esta resposta, esperou Nils Elofson alguns dias para reflectir, depois mandou perguntar a Olle de Saby, que morava na comuna de Stora Kil, se podia vir tocar no casamento de sua filha.
Mas Olle de Saby deu a mesma resposta que Martim. Mandou dizer a Nils Elofson que, enquanto houvesse em Svarstjo um músico como João Oster, ele lá não iria tocar.
Nils Elofson não achava graça à pretensão dos músicos de lhe imporem quem ele não queria. Parecia-lhe até que era agora um ponto de honra achar outro músico que não fosse João Oster.
Alguns dias depois de receber a resposta de Olle de Saby, enviou o criado a Lars Larsson, o violinista de Engsgardet, na comuna de Ulerud.
Lars Larsson era homem abastado, proprietário de uma próspera granja; era prudente e reflectido, não uma cabeça esquentada como os outros músicos.
Mas esse, como os outros, pensou logo em João Oster, perguntando por que não se tinham dirigido a ele para o que queriam. Por malícia, respondeu o criado de Nils que, como João Oster morava em Svarstjo, havia ocasião de ouvi-lo todos os dias, e, visto que Nils Slofson promovia uma festa extraordinária, desejava oferecer aos seus convidados alguma coisa melhor, mais rara.
— Duvido que ele ache melhor.
— Sem dúvida, vai dar a mesma resposta que Martim o Tocador, e Olle de Saby — disse o criado, contando-lhe o acolhimento que aqueles tinham feito ao convite do seu senhor.
Atento, ouviu Lars Larsson a narração do criado. Guardou silêncio um momento, reflectindo, e deu resposta afirmativa.
— Dize a teu amo que agradeço o convite e que irei à hora marcada.
No domingo seguinte, lá foi Lars Larsson à igreja de Svarstjo. Viram-no chegar à ladeira que conduz à igreja, justamente quando começava a formar-se o cortejo nupcial para se pôr a caminho.
Viera no seu próprio carrinho, puxado por um cavalo de preço; vestia um belo trajo negro e tirou o instrumento de uma esplêndida caixa. Recebeu-o Nils Elofson com todos os respeitos devidos à sua categoria: aquele, sim, era um músico de quem a gente se podia orgulhar.
Pouco depois da chegada de Lars Larsson, viram aproximar-se João Oster, com o violino debaixo do braço. Foi direito ao cortejo que cercava a noiva, como se tivesse sido convidado para tocar na festa.
Vinha com o seu velho colete de burel cinzento, que vestia há longos anos, mas, como se tratava de casamento tão rico, a mulher fizera alguns consertos, pondo nos cotovelos grandes remendos de pano verde. Era um belo homem, de alta estatura, e faria grande figura à frente do cortejo nupcial, se não estivesse tão miseravelmente vestido, e se a luta incessante contra a miséria lhe não houvesse marcado o rosto de rugas.
Vendo chegar João Oster, pareceu Lars Larsson contrariado.
— Convidou-o também? — perguntou a meia voz a Nils Elofson. — Não são demais com efeito, dois músicos para tão magnífico casamento.
— Mas não o convidei — protestou Nils Elofson. — Não compreendo por que veio. Espera um pouco, que lhe farei saber que nada tem a fazer aqui.
— Foi então algum trocista que o convidou. Mas, se quer o meu parecer, façamos de conta que de nada desconfiamos e vá dar-lhe as boas-vindas. Tenho ouvido dizer que ele é arrebatado de génio, e não podemos ter a certeza de que não vá fazer escândalo, se lhe disser que não foi convidado.
Aceitou Nils sem hesitação este conselho. Seria inoportuno procurar aborrecimentos no momento em que o cortejo se formava na praça da igreja. Aproximou-se, pois, de João Oster e cumprimentou-o.
Feito isto, colocaram-se ambos os músicos à frente. Atrás deles,
o par, sob o pálio, seguido dos pajens e donzelas de honor, dois a dois; vinham depois os pais dos noivos, e os diversos membros de ambas as famílias, de modo que o acompanhamento tinha na verdade um aspecto imponente.
Quando tudo estava pronto, um rapaz, dirigindo-se aos músicos, pediu-lhes que iniciassem a marcha nupcial.
Fizeram ambos os músicos simultaneamente o mesmo gesto de apoiar o violino ao queixo. Nisto pararam ambos, rígidos, à espera, porque, em Svarstjo, um velho costume exigia que fosse o músico mais hábil a iniciar a marcha nupcial.
Olhou o rapaz para Lars Larsson como a indicar que este começasse, mas Lars Larsson olhou para João Oster, dizendo:
— É João Oster quem deve começar!
Não pensava, porém, João Oster que o outro, vestido tão ricamente como um senhor, lhe pudesse ser inferior, a ele que, envergando um velho colete de burel, vinha de uma pobre cabana onde não havia mais do que trabalho e miséria.
— Oh, mas de modo nenhum — disse ele, confuso. — Oh! Não, de modo nenhum!
Viu que o noivo tocava no cotovelo de Lars Larsson, dizendo:
— Lars Larsson deve começar!
Ouvindo estas palavras, João Oster retirou o violino do queixo e deu um passo para o lado.
Lars Larsson não se moveu; ficou no seu lugar, parecendo tranquilo e contente de si. Contudo, também não levantou o arco.
— É João Oster quem deve começar — repetiu, acentuando as palavras, como homem habituado a fazer o que quer.
Houve não pouca agitação no cortejo, por causa da demora. Veio o pai do noivo pedir a Lars Larsson que começasse. À porta da igreja apareceu o porteiro, fazendo-lhe sinal para que se apressassem; o pastor já estava diante do altar. Era pouco delicado fazê-lo esperar.
— Não têm mais do que pedir a João Oster que comece — respondeu Lars Larsson. — Nós, músicos, sabemos que é o mais hábil de todos.
— Pode ser que assim seja — replicou o camponês — mas nós, camponeses, achamos que és tu, Lars Larsson, o mais hábil.
Cercavam-nos todos os convidados.
— Mas começai — diziam — o pastor está à espera. Vamos servir de risota a toda a gente.
Lars Larsson, porém, permaneceu ali, tenaz e desdenhoso como nunca.
— Não compreendo por que a gente daqui se opõe com tanto ardor a que o seu próprio músico tenha o primeiro lugar — disse ele.
Mas Nils Elofson enfurecera-se perante a obstinação de todos em quererem impor-lhe João Oster. Aproximou-se de Lars Larsson e disse-lhe ao ouvido:
— Compreendo que foste tu quem chamou João Oster, para o honrar diante de todos. Mas agora trata de começar, senão vou enxotar da praça este esfarrapado, que só levará daqui vergonha e confusão.
Sem mostrar cólera, olhou-o Lars Larsson nos olhos e fez com a cabeça um sinal afirmativo.
— Sim, tem razão, é preciso acabar com isto.
Fez sinal a João Oster para retomar o seu lugar à frente. Depois, adiantou-se alguns passos para que todos o pudessem ver. E, com um gesto rápido, lançou longe o arco, tirou a faca do bolso e cortou de um golpe as quatro cordas, que se partiram, produzindo um som agudo.
— Ninguém dirá que me considero acima de João Oster! — gritou ele.
Ora, é o caso que há três anos ruminava João Oster uma ária que sentia palpitar em si, mas que era incapaz de fazer sair das cordas do violino, porque, lá em casa, estava constantemente curvado sob o pesado fardo de cuidados pequeninos e miseráveis, e nunca lhe sucedera nada que o pudesse elevar acima da tarefa quotidiana. Quando ouviu rebentarem as cordas do violino de Lars Larsson, atirou para trás a cabeça e aspirou violentamente o ar nos pulmões. Tinha os traços do rosto tensos, como se escutasse alguma coisa que lhe vinha de muito, muito longe, e de repente, pôs-se a tocar. Porque a ária que procurara em vão durante três anos, lhe aparece de improviso com maravilhosa limpidez, e, fazendo ressoar as notas claras, pôs-se a caminhar altivamente para a igreja. E jamais a gente do cortejo ouvira ária tão triunfal. Arrastou-os a todos com tão irresistível ímpeto que o próprio Nils Elofson não se pôde manter quieto. E estavam todos tão contentes, não só de João Oster, mas também de Lars Larsson, que o acompanhamento inteiro tinha os olhos rasos de lágrimas ao entrar na igreja.
Selma Lagerlöf

agosto 31, 2012

A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia

A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia

 

Há que admirar um livro cujo título diz tudo. A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia é realmente uma viagem, e é realmente maravilhosa. Mais que um conjunto de fábulas, menos que um punhado de mitos, esta é a grande geografia sentimental da Suécia, um compêndio de beleza a descobrir na companhia de um bando de patos-bravos (dos verdadeiros) ou às costas de um ganso que não se resignou a ser mais um animal domesticado.

Numa demonstração de um raro sentido de oportunidade e mesura que nunca chega a desertar o texto, Selma Lagerlöf não se delonga em apresentar Nils, rapazinho mau como as cobras que faz a sua aparição no início da narrativa. Ao contrário do que seria de esperar num romance destinado a acompanhar as viagens de um rapaz sueco, não se amontoam longos parágrafos descritivos ou epopeias de crueldade juvenil – seja no início, no corpo, ou no final da obra. Ao invés, a autora prefere deixar os animais da granja oferecerem os seus próprios testemunhos de carácter – cujas convincentes interjeições intersticiais muito pouco lisonjeiras não tardam a fazer sentido aos ouvidos de um Nils entretanto transmogrificado num minúsculo gnomo. Mas, superado o choque inicial, o rapaz compreende que há fados mais funestos e abraça a sua nova condição com optimismo e energia. Entre as asas do rebelde ganso, encabeça a rota da grande migração até esse paraíso de Primavera que é a Lapónia.
 
Medindo as suas palavras com parcimónia, a veneranda autora desfaz assim – sem hipótese de riposta –  o preconceito de que poderíamos estar perante uma figura com um defeito unidimensional exemplarmente definido, um  sujeito vil, portador de uma daquelas falhas tão impecavelmente delineadas que se diria existirem somente na expectativa de serem corrigidas ou redimidas pelas lições resultantes de uma fábula com a mesma limpeza e exactidão clínica com que uma peça de puzzle encaixa noutra. Este livro não é contudo um mero conjunto de fábulas, e se nunca mergulhamos de pleno na psique de Nils, a verdade é que o rapazinho se assemelha mais a um herói de Bildungsroman do que a um aventureiro ocasional do rocambolesco virtuoso. A viagem de crescimento em que embarca é certamente também ela espiritual, e a natureza a sua grande impulsionadora reformista.
Mas a grande protagonista é indubitavelmente a Suécia. Assombrosa, é ela o palco, ela o espaço aberto, o espírito telúrico que pulsa sob um firmamento selvagem. Ela é o agon em si, o ponto fulcral em redor do qual se congrega a vida e as suas causas. Nada menos que a Suécia para regenerar Nils ou conduzir Akka de Kebnekaise até à Lapónia, frustrar a raposa Esmirra ou envolver os pateiros Martin e Asa no círculo da vida e da morte. A força desta narrativa é tal que só apetece bradar, a uma aurora boreal ou por cima de um lago adormecido, que belo é o mundo (ou o país) que tais criaturas contém.
 
Veja-se ou não neste livro um exemplo distinto de literatura para crianças (e a grande questão que se suscita é a de saber se os livros infantis que hoje se produzem ainda serão lidos daqui a cem anos, como este), há que considerar o realismo mágico de Largelöf profundamente acessível e, no entanto, sugestivo de ideias colossais que lhe subjazem em mitologia e imaginário. Uma saga? De qualquer modo, uma magnífica súmula nórdica de sensibilidades.


agosto 23, 2012

Escritoras nórdicas Vencedoras do Prêmios Nobel

  • Selma Lagerlöf 
1858-1940        Suécia  
Prêmio Nobel de 1909

 Selma Ottiliana Lovisa Lagerlöf foi a primeira mulher a receber oPrêmio Nobel da Literatura. Foi professora e distinguiu-se na escrita para crianças e jovens, em textos que retratam o seu país.O primeiro romance foi Lenda de Gösta Berling (1891), mais tarde transposto para o cinema, embora o seu texto mais conhecido seja A Viagem Maravilhosa de Nils Holgerssn pela Suécia (1906),traduzido em quase todas as línguas. 


  • Sigrid Undset 
 1882-1949      Noruega 
Prêmio Nobel de 1928 

Nasceu na Dinamarca e foi para a Noruega com dois anos. Órfã desde os 11 anos, trabalhou como secretária. Após um primeiro romance que não conseguiu publicar, deixa uma vasta obra, de que se destacam: Fru Marta Aulie (1924), a trilogia KristinLavransdatter (1920-1922), Tilbake til fremtiden (1945) e Lykkelige dager (1947).  
Os seus textos abordam os mistérios 
das antigas sagas nórdicas.
Distinguiu-se pela sua convicta luta anti-nazi. 

agosto 14, 2012

SENTIDOS

SENTIDOS






Adoro o silêncio
O cheiro da chuva
O acariciar da brisa
A força do vento
Da tempestade.

Adoro
Ouvir o canto dos pássaros
O som da relva.
Contemplar a beleza
Das flores.
Sentir seu aroma
Suas cores
Suas formas.

Adoro a simplicidade
A poesia
A arte
Expressão da minha alma.

Adoro caminhar pela areia
Sentir o aroma do mar
Mergulhar no infinito azul
Me deixar levar pelo vento
Cruzar barreiras
Desafiar fronteiras
Ter a liberdade dos pássaros.


Adoro
A sensação do sol
Aquecendo meu ser.
O sabor da chuva
Me embriagar
Em suas gotas
Senti-las percorrer
Meu corpo
Lavar minh’alma.

Adoro o inverno
O despertar da primavera
O sabor outonal
Das quatro estações.

Adoro ser parte de mim
Da mulher que sou.
Sentir-me
Parte do universo.
E ter certeza
Que faço parte dele
Do constante espetáculo
Da vida.
(Kris Rikardsen)

agosto 03, 2012

 Chega pela mão do poeta Jorge Sousa Braga, que  traduziu  o livro "O GRANDE ENIGMA" (2004), de Tomas Tranströmer.


O ROCHEDO DAS ÁGUIAS
Por detrás do vidro do terrário
estranhamente imóveis
os répteis.

Uma mulher estende a roupa
em silêncio.
A morte está ao abrigo do vento.

Nas entranhas da terra
a minha alma desliza
silenciosa como um cometa.


§

FACHADAS

1.

No fim da estrada vejo o poder
e é como uma cebola
com rostos sobrepostos
que caem um a um…

2.

Esvaziam-se os teatros. É meia-noite.
Palavras ardem nas fachadas.
O enigma das cartas sem resposta
afunda-se na fria cintilação.


§

NOVEMBRO

Quando se aborrece, o verdugo torna-se perigoso.
Enrola-se o céu ardente.

Gotas de água a cair da torneira ouvem-se de cela em cela
E o espaço transborda da terra gelada

Algumas pedras brilham como luas cheias


§

A NEVE CAI

São cada vez mais
numerosos os funerais
como os painéis na autoestrada
ao aproximar-se uma cidade.

Milhares de pessoas
na terra das grandes sombras.
Uma ponte constrói-se
lentamente
direito ao espaço.

§

ASSINATURAS

Devo passar
pelo umbral escuro.
Uma sala.
O documento em branco resplandece.
Como as muitas sombras que se movem
todos querem assiná-lo.

Até que a luz me trespasse
e dobre o tempo.

§

HAIKUS
1.


Jardins suspensos
num mosteiro lama.
Pinturas de batalhas.

*
Muro do desespero…
Não têm rosto
as pombas que vão e vêm.

*

Pensamentos parados,
os mosaicos coloridos
no pátio do palácio.

*

Jaula de sol.
De pé na varanda
como um arco-íris.

*

Murmúrio na névoa.
Longe um barco de pesca
…um troféu nas ondas.

*

Cidades cintilantes:
Tons, lendas, cifras—
Também…

2.

Veado ao sol:
as moscas cozem
a sombra ao chão


3.

Um vento gelado
trespassa a casa esta noite—
o nome dos demónios

*

Pinheiros descarnados
no mesmo pântano —
sempre e sempre.

*

Perdido na escuridão
encontrei um enorme sombra
num par de olhos.

*

Sol de Novembro.
A minha sombra nada:
Espelho.

*

Aqueles marcos de pedra
algures no caminho. Escuta
o arrulhar duma pomba

*

A morte dobra-se sobre mim.
Problema de xadrez.
Ela tem a solução.


4.

Com a sua cara de bulldog
o rebocador contempla
o pôr do sol.

*

Numa saliência da rocha
o estalido na escarpa mostra
o sonho, um iceberg

*

Subindo a encosta
debaixo do sol as cabras
ruminavam fogo


5.

As víboras
erguem-se no asfalto
como mendigos

*

Folhas ocre no outono—
tão valiosas como
os manuscritos do Mar Morto

6.

Na estante da biblioteca
do manicómio,
intacto o livro dos sermões

*

Sai do pântano!
O siluro contorce-se de riso
quando o pinheiro bate as doze.

*

Inchado de felicidade
naqueles pântanos-
mas quem canta são as rãs.

*

Ele escreve e escreve…
Grude flutua nos canais.
No Estige, aquela barcaça.

*

Silencioso como a chuva
ao encontro do murmúrio das folhas—
Escuta o sino do Kremlin

7.

Estranho bosque
Onde Deus vive sem dinheiro—
claras muralhas

*

Sombras rastejantes…
Perdida no bosque
a tribo de cogumelos.

*

Pega negra e branca:
teimosa corre em ziguezague
a direito através dos campos

*

Olha como me sento
uma barca em terra.
Aqui sou feliz

*

Trotam as alamedas
com armadura de raios solares.
Alguém chamou?


8.

Cresce a erva –
o seu rosto é uma runa
em memória

*

Uma imagem obscura.
Pobreza dissimulada,
flores num uniforme de presidiário


9.

Chegada a hora
repousa o vento cego
contra as casas

*

Eu estive ali –
sobre a parede caiada
amontoam-se as moscas.

*

O sol queima…
Um mastro com uma vela negra
de um tempo longínquo


*

Aguenta, rouxinol!
Do abismo cresce:
estamos disfarçados.

10.

A morte escreve
sobre o mar, enquanto
a igreja respira ouro.

*

Algo aconteceu.
O luar enche o quarto.
Deus sabia-o.

*

Caiu o tecto
e a morte pode ver-me:
aquele rosto.

*

Escuta o zumbido da chuva.
Para lá entrar
sussurro um segredo.

*

Cais da estação.
Que estranha esta quietude –
é a voz de dentro


11.

Milagre –
uma velha macieira
perto do mar

*

O mar é um muro.
Oiço grasnar as gaivotas:
elas saúdam-nos.

*

Por trás vento de Deus.
O tiro chega surdo—
sonho demasiado longo

*


Silêncio cor de cinza.
Passa o gigante azul.
A brisa do mar.

*

Um vento forte e pacífico
da biblioteca do mar.
Aqui posso repousar.

*

Aves com forma humana.
Macieiras em flor.
O grande enigma.



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