Colectânea de poemas de um autor que, segundo o próprio, é conhecido
pela sua “pouca produtividade literária”. Com efeito, Tranströmer,
vencedor do Nobel em 2011 pelas “suas imagens condensadas e translúcidas
que nos dão um novo acesso à realidade”, escreveu pouco mais de uma
dezena de livros de poesia, mas está traduzido em mais de 50 línguas. O Grande Enigma
são cinco pequenos poemas e vários haiku (note-se que são haiku feitos à
moda sueca, adaptando esta forma japonesa, o que, em versões
traduzidas, nos transporta, ainda para um terceiro universo
linguístico!). A estrutura simples e silábica surpreende porque consegue
encaixar em si uma profundidade que não necessita de arranjos barrocos.
A vida de Tranströmer foi peculiar, como a de todos os homens notáveis.
Educado apenas pela mãe numa melancólica ilhota da Suécia, formou-se em
Psicologia e Literatura. Trabalhou como psicólogo num casa de correcção
juvenil, o que mais acentuou a sua veia trágica e nostálgica. Mais
tarde, sofreu um AVC que lhe deixou paralisado o lado direito do corpo e
o impossibilitou de falar. Mas Tranströmer, lutador por natureza e por
experiência de vida, continuou a escrever poesia e a tocar piano,
auto-ensinando-se a fazer ambos apenas com a mão esquerda, de modo tão
notável que chegou a dar recitais líricos. Na Suécia, alcunharam-no de
“poeta milhafre” (buzzard poet) pois dizem que a sua poesia perspectiva o
mundo como se ele planasse em grandes alturas.