maio 22, 2011

Edvard Grieg - Parte II

 

Certo dia de verão, Grieg estava viajando de Voss a Gudvangen, que fica à margem do Fiorde de sogn. Como de costume, o meio de transportante era charrte puxada por cavalo. No caminho, os viajantes passaram por lagos, montanhas, quedas d’água, pequenos sítios encravados em encostas e grandes propriedades em meio a vales verdejantes.  

Em Stalheeim subiram a íngreme e sinuosa estrada, aproximando-se do hotel situado no topo da escarpa. Grieg viajava acompanhado de Sjur Helgeland, um grande rabequista. Sjur trouxera seu violino de Hardager e tocara durante grande parte do trajeto. Quando chegaram ao ao hotel, o proprietário reebeu a célebre visita, convidando Grieg a prestigiar, na mesma noite, um recital da “nossa nova e excelente orquestra”. Grieg recusou a oferta, desculpando-se com as seguintes palavras: Esta noite estou com o Sjur”. A anedota, que mostra a admiração de Grieg pela música popular, ainda faz parte do repertório nos vilarejos da região. Com bastante frequência, Grieg convidava amigos compositores da Dinamarca, Holanda e Inglaterra para fazer caminhadas nas regiões aplpinas da Noruega. O inglês Fredrick Delius demonstrou tanta fascinação pelos fiordes e montanhas que Grieg e seus amigos passaram a chamá-lo de “Homem do Planato de Hardanger”.  

Outro visitante assíduo foi o compositor holandês Julius Röntgen. Em agosto de 1891, ele encontrou Grieg em Lofthus. Os dois decidiram ir juntos a Jotunheimen – o maciço mais bravio e de maior altitude da Noruega. Iniciaram a aventura navegando pelo Fiorde de Hardanger rumo ao norte, antes de viajar por terra até Voss, Stalhein e Gudvangen. Depois seguiram caminho a remo, perfazendo 90 km no Fiorde de Sogn até o último vilarejo, Skjolden, que é o portal ocidental de Jotunheimen, Röntgen deixou um relato vivaz da subida de Skjolden até a região alpina:

“Dali a subida é íngreme até Turtagro. No caminho levamos um rebequista, que nos entretinha com danças camponesas naquela viagem deliciosa. A música combinava tão bem com a paisagem! 
Grieg escutava encantado, marcando o ritmo com a cabeça. Na mão, segurava um copo de vinho do Porto, que de vez em quando oferecia ao músico. “Isso é a Noruega”, disse, com os olhos brilhando.”

 

Na riqueza da tradição folclórica, Grieg encontrou material para criar música de câmara, obras orquestrais, canções e peças para piano. Entre os instrumentos utilizados pelos músicos populares, o violino de Hardanger exercia especial fascinação sobre Grieg. Este violino de oito cordas, sendo quatro de ressonância, é considerado o instrumento nacional da Noruega. 

Nas paragens interioranas de Fiorde de Hardanger e nos vilarejos próximos de Voss, a arte de tocar este violino sempre foi bastante apreciada, mantendo-se viva até os nossos dias. Hoje, cem anos após a morte de Grieg, podemos ver os mesmos vilarejos bucólicos e igrejas de madeira, rodeados por altas montanhas, geleiras e cachoeiras. O número de habitantes nas pequenas comunidades continua praticamente o mesmo. Preserva-se a cultura popular local ao mesmo tempo em que influências modernas são absorvidas. Os trajes típicos, as danças folclórica ainda fazem parte da vida cultural.

 
“Retratar, por meio de música, as paisagens norueguesas, a vida do povo norueguês, a história norueguesa e a poesia folclórica da Noruega me parece a missão que acredito poder realizar.”

 

 

Desde meados do século XIX, Turtagro é o ponto de partida para montanhistas de diversos países que queiram conhecer o maciço de Jotunheimen. As caminhadas nestas serras inspiraram o famoso dramaturgo norueguês Ibsen a escrever a peça Peer Gynt, para a qual Grieg compôs a música incidental na década de 1870. Grieg fazia excursões e caminhadas em Jotunheimen, onde se via face a face com o “o grandioso”. É Shakespeare e Beethoven e o que quiser em essência pura! Não troco isso por uma dúzia de concertos com Orquestra do Gewandhaus de Leipzig”, declarava ele. O site www.noruegadegrieg.org.br apresenta, em português, informações atualizadas sobre todos os festivais.

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