Embora a literatura islandesa tenha
se mantido por longo tempo isolada,
essa falta de intercâmbio não prejudicou
a produção literária do país,
marcada por autores que são
verdadeiros mestres da arte de contar histórias.
A rua Laugavegur, em Reykjavik, cheia de cafés, lojas de turistas e butiques de designers, é o local predileto da escritora Auđur Jónsdóttir. "Aqui encontro muita gente, especialmente no fim de semana, para tomar um café ou simplesmente fazer uma caminhada", diz ela.
A Islândia é um país com apenas 320 mil habitantes. Ou seja, nada surpreendente que as pessoas se conheçam, não importa em que área atuem. "Todas as vezes que passo por aqui ouço novas histórias, que me inspiram", diz Auđur Jónsdóttir.
A "aldeia Islândia"
Jónsdóttir escreve desde os 25 anos de idade. Na Islândia, ela é conhecida e seus livros são bastante lidos. Além disso, ela já recebeu diversos prêmios por seus romances e peças de teatro. Durante a Feira do Livro de Frankfurt, está sendo lançada a primeira tradução de uma de suas obras para o alemão.
Embora o volume Do outro lado do mar está o mundo todo tenha a Islândia como cenário, o livro é interessante para além das fronteiras da ilha, garante Jónsdóttir. "Quando transponho problemas globais para a pequena Islândia, eles ficam esplendidamente absurdos. Nosso país é como uma aldeia e os temas internacionais se tornam aqui, de certa forma, bizarros".
A Islândia é, de fato, um país com várias especificidades, que vão além de vulcões em erupção e bancos em crise. Em quase nenhum outro país do mundo escrevem-se e vendem-se tantos livros, considerando-se porporcionalmente o número de habitantes. A Associação Islandesa de Escritores conta com 400 membros e 40 editoras. Tomando como base o baixo número de habitantes, verifica-se uma altíssima "densidade literária" no país.
Durante muito tempo, contudo, os escritores islandeses mantiveram-se isolados do resto do mundo, comenta o crítico literário e editor Kristján Jónasson. "No contexto europeu, a literatura islandesa permaneceu por muito tempo alheia a um diálogo real com outros países, nem mesmo com os escandinavos".
Situada a aproximadamente mil quilômetros de distância do continente, o país desenvolveu seu próprio universo literário. Nos anos 1980, os editores islandeses resolveram, pela primeira vez, tentar exportar a literatura nacional. E pensaram juntos, o que os livros islandeses teriam realmente de especial para ser oferecido no mercado editorial internacional. "Eram sobretudo os romances, ancorados principalmente na narrativa, escritos com grande prazer e às vezes até mesmo com um toque mágico", descreve Jónasson.
Sagas, poesia e romances urbanos
O pequeno país dos grandes contadores de histórias: um rótulo que antes de ser romântico ou chamado de patético, caracteriza, de fato, a história da literatura no país. Até meados do último século, a Islândia era um dos países mais pobres da Europa, embora tenha sido sempre rica em termos de produção literária. Muito singulares são as sagas islandesas datadas do século 13, resgatadas até hoje por vários autores do país, entre eles por Einar Kárason, cuja obra já foi traduzida para diversos outros idiomas. Seu novo romance – Reconciliação e Rancor – remete às sagas islandesas medievais.
A literatura islandesa vai, contudo, muito além disso. Os romances e contos de Gyrđir Elíasson, por exemplo, são lúdicos e poéticos. O autor se tornou conhecido através de seu livro surrealista Um esquilo itinerante e recebeu, este ano, o Prêmio Literário do Conselho Nórdico. Nos anos 1990, surgiram na ilha também alguns romances urbanos insolentes, como por exemplo 101 Reykjavik, de Hallgrímur Helgason.
Todos os gêneros e estilos
Ou seja, na Islândia, encontra-se uma produção respeitável de todo gênero literário. "Os escritores são muito produtivos e não se atêm a categorizações baratas", diz Auđur Jónsdóttir. "Não temos divisões rígidas. Muito autores escrevem poesia, livros infantis e romances, misturando os estilos, mas também brincando com eles", completa. Isso, segundo a escritora, dá um certo frescor aos textos.
Uma característica que fica perceptível também em Do outro lado do mar está o mundo todo. A obra é tudo ao mesmo tempo: crítica social, romance policial, busca de identidade. Na Islândia, o conceito de impossível inexiste. Tudo é permitido.
Talvez essa segurança na forma de lidar com o texto venha exatamente do isolamento geográfico do país. Longe das fogueiras de vaidades do mercado editorial internacional, os escritores islandeses conseguem se concentrar estritamente em seus livros. Diga-se de passagem, eles recebem uma ajuda do Estado para isso. Todo escritor na Islândia, pode, caso entre com um requerimento, pedir um salário mensal do governo para escrever.
Autora: Nadine Wojcik (sv) Revisão: Carlos Albuquerque
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15456502,00.html
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