abril 10, 2012

Um porto repleto de humanismo

Em "O Porto", o diretor finlandês Aki Kaurismaki
expressa o real significado do humanismo



O cineasta finlandês Aki Kaurismaki, 57, juntamente com o seu irmão Mika, começou a fazer cinema em 1981. Naquele ano, Kaurismaki dirigiu um documentário sobre a turnê de três bandas de rock de seu país em um barco a vapor - "Saimaa-ilmiö". Nada mais simples.

Dois anos depois, adaptou o clássico romance "Crime e Castigo", de Fiodor Dostoievski (1821 - 1881), para a realidade de Helsinki. Ganhador do Jussi Awards, o Oscar da Finlândia, de direção e roteiro, deu início, praticamente, do que hoje chamamos de novo cinema finlandês. A produtora montada pelos irmãos, a Villealpha - cujo nome é uma homenagem ao francês Jean Luc Godard e seu magistral "Alphaville" (1965) -, dos anos 80 até agora, tem sido responsável por uma cifra invejável: um quinto dos filmes realizados no país.

Ao longo desse tempo eles produziram 36 filmes, entre longas de ficção, documentários e curtas-metragens. Dos 15 longas dirigidos por Aki, chegaram ao circuito de arte brasileiro somente o citado "Crime e Castigo", "Os Cowboys de Lenigrado vão Para a América" (1989), "A Mocinha da Caixa de Fósforos" (1990), "O Homem sem Passado" (2002) e "Cada um com o Seu Cinema" (2007) - este, um filme coletivo no qual Aki dirigiu o episódio "La Fonderie".

Realizado no ano passado, "O Porto" é a mais recente pérola saída da Villealpha. Não admira que tenha conquistado, no ano passado, nada menos de 16 nomeações a prêmios, incluindo a Palma de Ouro em Cannes, de onde saiu o prêmio da crítica internacional, primeira das 13 premiações que receberia ao longo de sua temporada.

"O Porto" chega ao Brasil graças à Imovision, a ousada distribuidora de Jean-Thomas Bernardini, também responsável pela vinda do documentário "Pina 3D", de Wim Wenders. Trata-se de uma das criações mais belas e singelas do cinema. Uma ode ao humanismo.

E é esse caráter humanista extravasado em "O Porto" o elemento de surpresa. Há algum tempo Aki, em entrevista, fez uma revelação, dura, tanto de sua decepção quanto de desencanto. "Eu gosto de cães. A humanidade, eu não me importo mais. Eu deveria gostar da humanidade, porque faço parte dela, mas eu prefiro cães. Eles são honestos e não mentem", disse.

A afirmação, levada ao pé da letra e inserida em "O Porto" podemos interpretá-la como uma mensagem de Aki dizendo "eu gostaria que fôssemos assim". Porque, o que dá sentido e trafega por dentro de "O Porto" é o humanismo. E é esse humanismo que nos carrega para dentro do filme nos dando uma sensação danada de que precisamos ser assim mesmo, bons, generosos, caridosos, e colocarmos o amor ao outro acima de qualquer outro ideal. Um porto de humanismo.

Encontro

Kaurismaki conta a história de Marcel Marx (André Wilms), um idoso que sobrevive como engraxate na cidade portuária de Le Havre, na França. Sua rotina é quebrada quando decide ajudar um garoto africano, Idrissa (Blondin Miguel), fugitivo da polícia.

Descoberto com dezenas de outros imigrantes no interior de um cargueiro, ao fugir da polícia, Marcel o acolhe das ruas. E esse acolhimento vai fazer toda a comunidade mudar a visão que tinha dele.

Ao mesmo tempo, a sua mulher, Arletty (Kati Outinen), que sofre uma doença terminal, é internada em um hospital. Desdobrando-se entre estar com a mulher e esconder o garoto, Marcel recebe a ajuda de pessoas que jamais esperava ter como amigos.

Um dos grandes filmes sobre a solidariedade, a revelação do caráter e a busca da identidade, "O Porto" celebra o lado de bom que faz o homem construtor do progresso e da sua civilização.

Daí, sugiro que, caso se decida a assistir a esta obra de Aki Kaurismaki, apenas entre no cinema e se deixe levar. Aprecie como o cineasta expressa a ordem das ações humanas, para o bem e para o mal.

Cativante e de uma simplicidade exemplar, "O Porto" celebra a solidariedade e ação do bem que dá sentido a existência do homem. Obra com um radiante final feliz, "O Porto" trata do mistério que é a vida. Nada mais do que um puro e maravilhoso... milagre.

Leia mais em http://blogs.diariodonordeste.com.br/blogdecinema/

Nenhum comentário:

Postar um comentário