setembro 30, 2012

Isabel Allende conquista prêmio de literatura na Dinamarca

 Isabel Allende conquista prêmio de literatura na Dinamarca

Odense (Dinamarca) Em reconhecimento de sua "mágica narrativa", a escritora chilena Isabel Allende recebeu neste domingo o prêmio Hans Christian Andersen de Literatura em uma cerimônia realizada no Koncerthus de Odense, na Dinamarca.


Sua qualidade como narradora e seu "talento" para enfeitiçar o público foram os argumentos usados pelo júri para justificar o prêmio, avaliado em US$ 86 mil e que foi entregue pelo príncipe Frederik da Dinamarca.

 
"O grande mérito de Isabel Allende como escritora é que é capaz de nos converter em leitores. Seus livros nos introduzem na história com um misterioso prelúdio, uma trama clara e uma narrativa sensitiva, cujas imagens são impossíveis de esquecer", afirmou Anne-Marie Mai, integrante do júri.

 
Isabel, por sua vez, se mostrou emocionada por este prêmio, que qualificou como um dos mais "significativos" de sua longa carreira, já que o mesmo leva o nome do célebre escritor de contos dinamarquês e é tido como "uma homenagem à fantasia, à magia".
"Os contos de Andersen foram os primeiros que escutei. Minha mãe que me lia", declarou a escritora chilena em seu discurso de aceitação.

 
"Essas histórias estimularam minha curiosidade, alimentaram minha fantasia e me ensinaram coisas sobre a lealdade, o amor, a grandeza, as dores e perdas da vida", completou Isabel ao falar que o autor de "O Patinho Feio" e "O Soldadinho de Chumbo" despertou seu "sonho" de se transformar em escritora.

 
"Minha mãe me contou que comecei a inventar histórias antes de saber ler e escrever. Por ter muitas histórias, ela me considerava uma menina mentirosa e, às vezes, me castigava. Contar essas chamadas ''mentiras'' é agora meu modo de vida, mas já não me chamam mais de mentirosa, e sim de ''narradora''", ressaltou Isabel após receber o prêmio. EFE


 http://noticias.terra.com.br/noticias/0,,OI6191686-EI188,00-Isabel+Allende+conquista+premio+de+literatura+na+Dinamarca.html

setembro 18, 2012

Selma Lagerlöf

"A cultura é tudo o que resta 
depois de se ter esquecido tudo o que se aprendeu."

"Ninguém pode livrar os homens da dor, 
mas será bendito aquele que fizer renascer neles 
a coragem para a suportar."

 "A alegria é a dor que se dissimula - 
à face da Terra só existe a dor"
(Selma Lagerlof)



Selma Ottilia Lovisa Lagerlöf, escritora sueca,  vencedora do Prêmio Nobel de  Literatura de 1909.

Primeira mulher a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura com livros de lendas e sagas suecas. Nasce Selma Ottiliana Lovisa Lagerlöf na cidade de Mårbacka. Forma-se professora e dá aulas em casa antes de ir para Estocolmo trabalhar em uma escola.

Aos 15 anos, depois de ter dedicado toda a infância à leitura, Selma decidiu que seria escritora e passou a escrever milhares de versos. Por volta de 1880, a situação financeira da família entrou em declínio, e começou a fazer pequenos trabalhos para se manter. Em 1882, com a ajuda financeira de um empréstimo feito por seu irmão Johan, Selma entrou para a Kungliga höga lärarinneseminariet, escola que formava professoras e que se preocupava com a causa feminista, incentivando a independência e o progresso social da mulher. Durante dez anos foi professora.

Aos 27 anos, concluídos os estudos, foi nomeada professora de História em Landskrona. Em certa ocasião cortou os cabelos que sempre usara em tranças, num gesto que na época era escandaloso e visto como sinal de emancipação feminina.

Em 1885, a família de Selma, mediante a doença do pai e as dívidas do irmão Johan, perdeu Mårbacka. Secretamente, Selma desejava trabalhar o suficiente para recuperar a propriedade da família. Foi auxiliada pela baronesa Sophie Lejonhufvud Adlersparre, que a incentivou a publicar seus versos em Dagny, a revista literária feminista fundada por ela. Em 1890, participou de um concurso de contos com alguns capítulos de um romance que estava escrevendo, e ganhou seu primeiro prêmio em dinheiro. Em 1891, publicava o romance completo, A Saga de Gösta Berling.

Após o sucesso, vieram Os Laços Invisíveis, em 1894, uma coleção de contos. Desses, o mais popular foi A Penugem. Nessa ocasião, em Estocolmo, Selma conhece Sofia Elkan, escritora de romances históricos, com a qual manterá correspondência e amizade pelo resto da vida. A partir dessa época escreveu Os Milagres do Anticristo, em 1897, , na Itália, considerado uma crítica ao socialismo siciliano, e Lenda de uma Quinta Senhorial, em 1898, concebido sobre o tema d e A Bela e a Fera.  Entre 1900 e 1902, publicou os dois volumes de Jerusalém, após uma viagem ao Egito e à Palestina, e posteriormente Escudos do Senhor Arne, As Lendas de Jesus Cristo e O Livro das Lendas. Já então era considerada uma das maiores escritoras suecas.

Alfred Dalin, diretor da escola de Husqvarna, fez-lhe a proposta de um livro para crianças das escolas primárias, que ensinasse a história e a geografia de seu país. Selma aceitou, elaborando extensa pesquisa e viagens de estudo, concluindo entre 1906 e 1907 a obra A maravilhosa viagem de Nils Holgersson através da Suécia, alcançando tamanho sucesso que pôde realizar seu sonho: comprar novamente Mårbacka, em 1910. Em 1904, recebera a medalha de ouro da Academia Sueca; em 1907, fora nomeada doutora honoris causa da Universidade de Uppsala; em 1909, recebera o Nobel de Literatura. 

No fim do século XIX, a literatura sueca era dominada pelo realismo naturalista.  Selma Lagerlöf, com sua obra mesclada de gnomos, duedes e fantasmas, ao recriar a atmosfera ficcional das lendas e relatos populares, significou uma volta ao romantismo.  Era vista, popularmente, como uma narradora que encarnava a arte dos contos populares.

Claes Annerstedt, que fez o discurso de recepção para Selma por ocasião da entrega do Nobel de Literatura, em dezembro de 1909, diria: "Para ela a natureza, mesmo inanimada, possui vida própria, invisível e contudo real".
 

Obras principais

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Selma_Lagerl%C3%B6f






O primeiro romance, «A saga de Gösta Berling», de 1891 foi transposto para o cinema (1924), por Mauritz Stiller, tendo como protagonista Greta Garbo.
O seu mais fabuloso sucesso editorial foi «A viagem maravilhosa de Nils Holgerssn através da Suécia», publicado, em 1906 e que foi traduzido em muitas línguas. Da sua obra destacam-se ainda os romances: «Jerusalém», «O foragido», a trilogia «O anel dos Löwensköld», «O tesouro», «Os milagres do Anticristo» ou «O Imperador de Portugália»; livros de contos como «O livro das lendas» ou «De um lar sueco»; e vários livros de memórias.
Foi ainda uma militante das causas feministas e uma pacifista convicta. Durante a II guerra mundial ajudou vários intelectuais alemães a fugirem conseguindo-lhes vistos suecos. A poetisa alemã Nelly Sachs foi por ela salva de ser colocada num campo de concentração. Como símbolo da sua contribuição doou a sua medalha de ouro do prémio Nobel para os esforços nacionais de luta contra os Nazis.
 
 A saga de Gösta Berling
Värmland, na Suécia, é famosa pela vida alegre e abastada dos ricos proprietários mineiros. O passatempo da moda é abrigar os aventureiros regressados das campanhas napoleónicas, homens viajados, com aventuras e experiências a partilhar que fazem deles o centro das atenções. Entre eles está Gösta Berling, muito mais novo e inexperiente, um padre renegado, jovem, brilhante, alegre, galante e sedutor. Berling conquista os corações de todas as mulheres e é um líder natural entre os homens. Numa dessas noites, Sintram, o ferreiro, aparece vestido de diabo e sugere um pacto que Gösta Berling deve assinar em sangue. Este é o começo do ano que vai marcar o fim de Värmland... Obra-prima da literatura europeia, escrito por Selma Lagerlöf, a primeira mulher a ganhar um prémio Nobel de literatura, este romance belíssimo cruza várias épocas e relatos que vão desde a lenda fantástica ao romance psicológico, da aventura histórica à fábula moral. Uma obra que segue a estrutura das sagas nórdicas e retoma de forma inteiramente original o tema do homem dividido entre o bem e o mal.


Os Milagres do anticristo
Numa pequena cidade costeira, os habitantes perguntam-se o que se passa com a natureza: é quase Verão e o mar continua gelado. Três soldados, nobres escoceses, aguardam que o seu barco desencalhe para partirem com um misterioso baú. Um deles, um homem elegante e bem vestido, reconhece a jovem Elsalill, que trabalha na estalagem após ter escapado aos assassinos que mataram toda a sua família. Elsalill não se lembra deste homem e dentro dela nascem emoções fortes que colocam a sua vida em risco.

Os Milagres do anticristo
Romance magistral e um dos mais representativos na Obra de Selma Lagerlöf, «Os Milagres do Anticristo» conta-nos a história de um ícone religioso – e de uma sua réplica com a inscrição O Meu Reino É Só Deste Mundo. A história começa em Roma, no tempo do imperador Augusto, no exacto momento em que este se prepara para ordenar a construção de um novo templo consagrado a si próprio. Uma visão adverte-o de um futuro culto que a sua cidade dedicará a Cristo, e o templo é consagrado a este novo Salvador do mundo. O ícone que o representa atravessa séculos e lugares. A sua réplica, feita por um viajante, chega a uma pequena aldeia no monte Etna, onde começa a fazer milagres até se descobrir a sua identidade profana.
Selma Lagerlöf

setembro 09, 2012

A marcha nupcial

  A marcha nupcial

 
Vou contar agora uma bela história.
Há muitos anos, ia celebrar-se um rico casamento na comuna de Svarstjo, na Vermlândia. A bênção nupcial seria na igreja, e a festa duraria três dias inteiros, e, enquanto durasse a festa, devia dançar-se desde o anoitecer até de manhãzinha.
E, pois que se devia dançar tanto, era muito importante achar um músico consumado, e a Nils Elofson, o rico camponês que casava a filha, atormentava mais este problema do que o resto dos preparativos. Quanto ao músico que habitava em Svarstjo, não o queria ele por preço algum. Chamava-se João Oster, e o nosso camponês sabia bem que tinha grande nomeada, mas era tão pobre, que às vezes se apresentava nas festas descalço e de colete rasgado. Não é um maltrapilho assim que a gente gosta de ver à frente de um cortejo nupcial.
Decidiu-se enfim a mandar perguntar a certo Martim, chamado o Tocador, de Josseherad, cantão vizinho, se estava disposto a vir tocar no casamento de Svarstjo.
Sem um instante de hesitação, respondeu Martim, o Tocador, que nunca tocaria em Svarstjo, enquanto houvesse naquela comuna o melhor músico de toda a Vermlândia. Visto que tinham aquele, não havia necessidade de mandar chamar outro.
Recebendo esta resposta, esperou Nils Elofson alguns dias para reflectir, depois mandou perguntar a Olle de Saby, que morava na comuna de Stora Kil, se podia vir tocar no casamento de sua filha.
Mas Olle de Saby deu a mesma resposta que Martim. Mandou dizer a Nils Elofson que, enquanto houvesse em Svarstjo um músico como João Oster, ele lá não iria tocar.
Nils Elofson não achava graça à pretensão dos músicos de lhe imporem quem ele não queria. Parecia-lhe até que era agora um ponto de honra achar outro músico que não fosse João Oster.
Alguns dias depois de receber a resposta de Olle de Saby, enviou o criado a Lars Larsson, o violinista de Engsgardet, na comuna de Ulerud.
Lars Larsson era homem abastado, proprietário de uma próspera granja; era prudente e reflectido, não uma cabeça esquentada como os outros músicos.
Mas esse, como os outros, pensou logo em João Oster, perguntando por que não se tinham dirigido a ele para o que queriam. Por malícia, respondeu o criado de Nils que, como João Oster morava em Svarstjo, havia ocasião de ouvi-lo todos os dias, e, visto que Nils Slofson promovia uma festa extraordinária, desejava oferecer aos seus convidados alguma coisa melhor, mais rara.
— Duvido que ele ache melhor.
— Sem dúvida, vai dar a mesma resposta que Martim o Tocador, e Olle de Saby — disse o criado, contando-lhe o acolhimento que aqueles tinham feito ao convite do seu senhor.
Atento, ouviu Lars Larsson a narração do criado. Guardou silêncio um momento, reflectindo, e deu resposta afirmativa.
— Dize a teu amo que agradeço o convite e que irei à hora marcada.
No domingo seguinte, lá foi Lars Larsson à igreja de Svarstjo. Viram-no chegar à ladeira que conduz à igreja, justamente quando começava a formar-se o cortejo nupcial para se pôr a caminho.
Viera no seu próprio carrinho, puxado por um cavalo de preço; vestia um belo trajo negro e tirou o instrumento de uma esplêndida caixa. Recebeu-o Nils Elofson com todos os respeitos devidos à sua categoria: aquele, sim, era um músico de quem a gente se podia orgulhar.
Pouco depois da chegada de Lars Larsson, viram aproximar-se João Oster, com o violino debaixo do braço. Foi direito ao cortejo que cercava a noiva, como se tivesse sido convidado para tocar na festa.
Vinha com o seu velho colete de burel cinzento, que vestia há longos anos, mas, como se tratava de casamento tão rico, a mulher fizera alguns consertos, pondo nos cotovelos grandes remendos de pano verde. Era um belo homem, de alta estatura, e faria grande figura à frente do cortejo nupcial, se não estivesse tão miseravelmente vestido, e se a luta incessante contra a miséria lhe não houvesse marcado o rosto de rugas.
Vendo chegar João Oster, pareceu Lars Larsson contrariado.
— Convidou-o também? — perguntou a meia voz a Nils Elofson. — Não são demais com efeito, dois músicos para tão magnífico casamento.
— Mas não o convidei — protestou Nils Elofson. — Não compreendo por que veio. Espera um pouco, que lhe farei saber que nada tem a fazer aqui.
— Foi então algum trocista que o convidou. Mas, se quer o meu parecer, façamos de conta que de nada desconfiamos e vá dar-lhe as boas-vindas. Tenho ouvido dizer que ele é arrebatado de génio, e não podemos ter a certeza de que não vá fazer escândalo, se lhe disser que não foi convidado.
Aceitou Nils sem hesitação este conselho. Seria inoportuno procurar aborrecimentos no momento em que o cortejo se formava na praça da igreja. Aproximou-se, pois, de João Oster e cumprimentou-o.
Feito isto, colocaram-se ambos os músicos à frente. Atrás deles,
o par, sob o pálio, seguido dos pajens e donzelas de honor, dois a dois; vinham depois os pais dos noivos, e os diversos membros de ambas as famílias, de modo que o acompanhamento tinha na verdade um aspecto imponente.
Quando tudo estava pronto, um rapaz, dirigindo-se aos músicos, pediu-lhes que iniciassem a marcha nupcial.
Fizeram ambos os músicos simultaneamente o mesmo gesto de apoiar o violino ao queixo. Nisto pararam ambos, rígidos, à espera, porque, em Svarstjo, um velho costume exigia que fosse o músico mais hábil a iniciar a marcha nupcial.
Olhou o rapaz para Lars Larsson como a indicar que este começasse, mas Lars Larsson olhou para João Oster, dizendo:
— É João Oster quem deve começar!
Não pensava, porém, João Oster que o outro, vestido tão ricamente como um senhor, lhe pudesse ser inferior, a ele que, envergando um velho colete de burel, vinha de uma pobre cabana onde não havia mais do que trabalho e miséria.
— Oh, mas de modo nenhum — disse ele, confuso. — Oh! Não, de modo nenhum!
Viu que o noivo tocava no cotovelo de Lars Larsson, dizendo:
— Lars Larsson deve começar!
Ouvindo estas palavras, João Oster retirou o violino do queixo e deu um passo para o lado.
Lars Larsson não se moveu; ficou no seu lugar, parecendo tranquilo e contente de si. Contudo, também não levantou o arco.
— É João Oster quem deve começar — repetiu, acentuando as palavras, como homem habituado a fazer o que quer.
Houve não pouca agitação no cortejo, por causa da demora. Veio o pai do noivo pedir a Lars Larsson que começasse. À porta da igreja apareceu o porteiro, fazendo-lhe sinal para que se apressassem; o pastor já estava diante do altar. Era pouco delicado fazê-lo esperar.
— Não têm mais do que pedir a João Oster que comece — respondeu Lars Larsson. — Nós, músicos, sabemos que é o mais hábil de todos.
— Pode ser que assim seja — replicou o camponês — mas nós, camponeses, achamos que és tu, Lars Larsson, o mais hábil.
Cercavam-nos todos os convidados.
— Mas começai — diziam — o pastor está à espera. Vamos servir de risota a toda a gente.
Lars Larsson, porém, permaneceu ali, tenaz e desdenhoso como nunca.
— Não compreendo por que a gente daqui se opõe com tanto ardor a que o seu próprio músico tenha o primeiro lugar — disse ele.
Mas Nils Elofson enfurecera-se perante a obstinação de todos em quererem impor-lhe João Oster. Aproximou-se de Lars Larsson e disse-lhe ao ouvido:
— Compreendo que foste tu quem chamou João Oster, para o honrar diante de todos. Mas agora trata de começar, senão vou enxotar da praça este esfarrapado, que só levará daqui vergonha e confusão.
Sem mostrar cólera, olhou-o Lars Larsson nos olhos e fez com a cabeça um sinal afirmativo.
— Sim, tem razão, é preciso acabar com isto.
Fez sinal a João Oster para retomar o seu lugar à frente. Depois, adiantou-se alguns passos para que todos o pudessem ver. E, com um gesto rápido, lançou longe o arco, tirou a faca do bolso e cortou de um golpe as quatro cordas, que se partiram, produzindo um som agudo.
— Ninguém dirá que me considero acima de João Oster! — gritou ele.
Ora, é o caso que há três anos ruminava João Oster uma ária que sentia palpitar em si, mas que era incapaz de fazer sair das cordas do violino, porque, lá em casa, estava constantemente curvado sob o pesado fardo de cuidados pequeninos e miseráveis, e nunca lhe sucedera nada que o pudesse elevar acima da tarefa quotidiana. Quando ouviu rebentarem as cordas do violino de Lars Larsson, atirou para trás a cabeça e aspirou violentamente o ar nos pulmões. Tinha os traços do rosto tensos, como se escutasse alguma coisa que lhe vinha de muito, muito longe, e de repente, pôs-se a tocar. Porque a ária que procurara em vão durante três anos, lhe aparece de improviso com maravilhosa limpidez, e, fazendo ressoar as notas claras, pôs-se a caminhar altivamente para a igreja. E jamais a gente do cortejo ouvira ária tão triunfal. Arrastou-os a todos com tão irresistível ímpeto que o próprio Nils Elofson não se pôde manter quieto. E estavam todos tão contentes, não só de João Oster, mas também de Lars Larsson, que o acompanhamento inteiro tinha os olhos rasos de lágrimas ao entrar na igreja.
Selma Lagerlöf